No constante barulho das ondas, vento de maresia em frente ao mar e cheiro de sal. Atravessa a rodovia encontrando o rio. Em frente ao píer, construções que duram centenas de anos e viagens longas de bicicleta. Uma bomba d’água funcionando bem como requinte do dia-a-dia onde existe rio e mar, mas a água não chega em casa. Depois vêm as aranhas, aracnídeas, lagartas, lagartixas e besouros verde-amarelos. O pequeno sino que chama para almoçar. O constante barulho dos grilos. Casas de barro escondidas no mato e longas caminhadas destino vila com o cavalinho simpático. A lenha no fogão esquenta o inverno crítico climático. A lenha seca como requinte do dia-a-dia onde o sereno e a distância são certos. Vida vivida simples, sintetizando ambientes salgados e gelados, sem nunca deixar de alimentar o etéreo e, às vezes, o estômago. Almeirão abundante tomate cereja de manhã. Café, dá para ficar no estúdio por horas e horas, olhando o dia passar pela claraboia. Então o mistério da noite vem com a lua iluminando e fazendo sombra nas coisas. Com ela cheia no fundo, o vinhático da Vanda se impõe, mostrando sua silhueta formosa. Dá vontade de fazer música nesses dias. Na cozinha, qualquer barulho de plástico é um chamado para o Cachorrinho, atento em não perder nenhuma boquinha. Aqui é um lugar mágico, de gentilezas e enormes generosidades das pessoas. Para os escantilhados na vida, é suficiente ter amigos que sabem que o valor das coisas não é receber algo em troca, porque a troca é mesmo inevitável e o que se troca às vezes é um mistério. Mas, atento ao emissor, o receptor recebe silenciosamente e, em gratidão, se entrega ao ciclo de comunhão coletiva e elevação dos interesses. Com paciência, ele acontece e faz crescer junto. Aqui, esses momentos foram lembrados e se materializaram em sons gravados, além de outras imagens inesquecíveis e experiências sublimes como presente da vida em troca de deixar muitas coisas para trás. Ter os pés sujos de lama seca, deitar e esquecer as mãos sujas do barro molhado do dia, a sálvia na frente da varanda, a flor especial, o milho duro que passou do tempo e então, surge um felino no meio do mato com o olhar refletindo a luz da lanterna ou um vendaval noturno que abre a porta do quarto, as árvores elásticas, o vento feroz, o som interminável. Neste espaço, quanto mais ruído se produz, mais resposta se recebe e enquanto batuca o ritmo que canta por dentro, sente chegar…
Sempre abrilhanta os próximos dias.
credits
released December 15, 2022
gravado e mixado por Guilherme Paz no Praião (Barra de São João) e no Emissor Estúdio (Sana) em sessões acompanhadas dos amigos funghi, em sessões solitárias e em momentos singelos com pessoas do coração.
masterizado no Estúdio Terra por Daniel Duarte
David Dinucci toca baixo nas faixas 4 e 5
Phill Fernandes toca bateria nas faixas 3 e 5
Luara palareti toca órgão na faixa 7
Thomaz Alves toca guitarra na faixa 4
Guilherme toca o resto
palavras por Guilherme e David
arte gráfica por David
texto encarte por Lívia Gomes
"Flower Of Life" yanks riot grrrl south through the unmistakable garage psych sound indispensable to the last 20-odd years of rock music out of Los Angeles. Bandcamp Album of the Day Mar 2, 2023